sábado, 6 de novembro de 2010

Entrevista com Monteiro Lobato.




Sobre a censura da obra de Lobato,abaixo está um relato de uma Professora do Clube dos Docentes da Língua Portuguesa.


"A obra que está na mira do CNE é Caçadas de Pedrinho, título lançado por Lobato em 1933. A narrativa conta a aventura do menino que parte a fim de capturar uma onça pintada. A “abordagem racista” estaria no tratamento dado à cozinheira Tia Nastácia, chamada de “negra” em alguns trechos do livro. Outro trecho condenado pelo Conselho é "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão".

Não é a primeira vez que uma obra de Lobato é perseguida. Em 1940, o livro Peter Pan foi recolhido, no estado de São Paulo, a pedido do Tribunal de Segurança Nacional. Todos os exemplares encontrados foram destruídos, sob alegação de que incitava as crianças a um pensamento equivocado sobre o governo do país e dava-lhes um sentimento de inferioridade por comparar crianças brasileiras e inglesas. Outras obras do autor passaram por campanhas difamatórias: O poço do Visconde (o autor questionava a recusa do governo sobre existência e exploração de petróleo); Geografia de Dona Benta (denúncia da má administração federal); História do mundo para crianças (o autor questionou o “descobrimento” do Brasil, narrou o episódio em que Vasco da Gama teria ordenado a mutilação de 1600 marinheiros árabes e afirmou ter Santos Dumont se suicidado por desgosto ao ver seus aviões usados como máquina de guerra); Hans Staden foi condenado por conter cenas antropofágicas porque poderiam assustar as crianças e Doze Trabalhos de Hércules foi criticado aparentemente desrespeitar a cultura grega. Naquele momento da história brasileira, a obra lobatiana poderia ser julgada como comunista e ordenou-se que os livros fossem retirados das bibliotecas escolares.

Monteiro Lobato tinha especial preocupação com o desenvolvimento da educação brasileira. O autor acreditava em um processo de ensino-aprendizagem em que o aluno fosse considerado agente de seu conhecimento, o que justifica o jeito “malcriado” de Emília, as observações críticas de Pedrinho, os saraus de Dona Benta e a cultura popular narrada por Nastácia. O pensamento de Lobato estava influenciado pela “Escola Nova” de Anísio Teixeira, que introduzira, no Brasil, as ideias educacionais do pedagogo americano John Dewey. Teixeira e Lobato defendiam a ideia de que era preciso discutir a democracia nas escolas, o ensino precisava ser público e gratuito, e o aprendizado só seria bom se feito a partir de experiências críticas.

O Conselho Nacional de Educação parece promover o retrocesso, o caminho inverso da luta educacional travada por Lobato e Teixeira. Ainda que suas obras contenham trechos que não traduzam os valores éticos atuais, é preciso levá-las às crianças e a partir delas construir um novo valor moral. É preciso ensinar a ler Lobato: por que o autor usou expressões que, hoje, são consideradas preconceituosas? Como o negro era tratado no início do século XX? Qual era seu papel social? Como o autor usa tais questões em sua obra? Proibir a obra de Lobato nas escolas é trazer de volta um período vergonhoso de nossa história."


Para ouvir a entrevista no Youtube, clique AQUI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário